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Biblioteca com o maior acervo sobre meio ambiente de MT será desativada


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A biblioteca Arne Sucksdorff, que fica dentro da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) e abriga o maior acervo sobre o meio ambiente de Mato Grosso, será desativada para abrigar os técnicos que serão contratados para validação do Cadastro Ambiental Rural (CAR). Todo o material, grade parte doado pelo cineasta sueco Arne Sucksdorff, que passou grande parte de sua vida no Pantanal mato-grossense, vai para outros órgãos, como a Assembleia Legislativa e escolas.

O espaço abriga cerca de 11 mil slides, 20 mil exemplares entre mapas, arquivos de vídeo, livros, CDs-Rom, DVDs, publicações de servidores da Sema e uma imensidão de EIAs e Rimas. Grande parte doados por Arne.

O cineasta nasceu em Estocolmo em 1917. Segundo seu obituário no jornal inglês ‘The Guardian’, veio para o Brasil no final dos anos 50, onde ensinou cinema para jovens (incluindo Glauber Rocha) a convite do governo federal e da Unesco, trabalhou ajudando crianças pobres e fotografou a fauna e a flora do país. Famoso por diversos filmes, incluindo o vencedor do Oscar de melhor curta-metragem ‘Sumphony of a City’ (1947), ele foi a primeira pessoa a produzir conteúdo sobre o Pantanal.

Arne no Pantanal (Foto: Reprodução / Folha do Meio Ambiente)

Em 1971, foi convidado pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) para filmar o longa “Mundo à Parte”, em quatro episódios: “Os Anos Felizes”, “Os Anos na Selva”, “Manha de Jacaré” e “O Reino da Selva”. O longa foi gravado no Pantanal, quando Arne e Maria [a cuiabana com quem se casou] voltaram da Suécia.

Foram doze anos de produção, sendo que a cada seis meses, durante a cheia, a equipe tinha que levantar acampamento e voltar para Cuiabá. Enquanto Arne filmava, Maria ajudava a catalogar as plantas e os animais. Este foi o primeiro grande trabalho feito sobre o Pantanal.

De acordo com a Secretaria, o acervo da biblioteca setorial “será disponibilizado para o público em geral com o remanejamento dos livros, mapas e estudos científicos para instituições que possam expor e disponibilizar os materiais aos cidadãos mato-grossenses. A proposta foi desenhada a partir da constatação de que o acervo está subutilizado, uma vez que a estrutura física da biblioteca está no interior da sede da Secretaria, limitando a visita da população”. Em 2017, foram 250 atendimentos, e em 2018, 312 visitas.


O plano da Secretaria é enviar o acervo de fotos e vídeos sobre o Pantanal, doados pelo cineasta sueco Arne Sucksdorff, à Assembleia Legislativa de Mato Grosso, os processos que contêm relatórios de EIA-Rima (Estudo e Relatório de Impacto Ambiental) para a Gerência de Arquivo Setorial da Sema para consulta pública, e os mapas para instituições de ensino. As demais publicações e o endereço de consulta 24 horas (PHL) serão disponibilizados à Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer para que esta faça o gerenciamento do acervo e defina a melhor estratégia de disponibilização do material.

“Estamos trabalhando arduamente para entregar resultados cada vez melhores à população mato-grossense e essa reestruturação integra o pacote de medidas para melhorar a eficiência da Secretaria utilizando-se de menos recursos”, explica a secretária de Estado de Meio Ambiente, Mauren Lazzaretti.

Os servidores da pasta, no entanto, acreditam que faltou diálogo para tomar a decisão. “Foi de maneira tempestiva, porque ela [a Secretaria] não buscou junto aos servidores ter um diálogo para encontrar um melhor caminho a ser tomado. Ela inclusive já entrou em contato com a Assembleia Legislativa”, lamentou o presidente do Sindicato dos Servidores da Sema (Sintema), Germano Passos.

“Além de ter um dos maiores acervos com relação às questões ambientais, ali estão todos os grandes estudos ambientais desenvolvidos no estado de Mato Grosso, dissertações de mestrado, de doutorado… e é lógico que a biblioteca tem uma característica de ser de cunho técnico, e quem faz mais a utilização de fato são os servidores e profissionais, pela característica técnica. Mas não é exclusivamente técnico, porque tem ali documentos que são de ordem de interesse cultural e ambiental”, completou o presidente.

Na última quinta-feira (28), o sindicato protocolou um pedido para que a gestão crie uma comissão formada por servidores do setor, pelo sindicato, e pela própria gestão, para discutir o caminho a ser tomado. “Existem outros espaços na Secretaria que podem ser viabilizados para fazer essa alocação. O que a gente quer é que tenha diálogo, e o debate que vai aproximar os entes envolvidos na busca de uma decisão mais assertiva. A biblioteca é uma história das questões ambientais do estado de Mato Grosso. Nós queremos achar alternativas pra que a mantenha preservada. Ela tem um peso histórico, um peso social, cultural e ambiental também. E isso nós temos que lutar pra manter”, afirmou.

Em entrevista ao Olhar Conceito em abril de 2018, a própria esposa de Arne, Maria Sucksdorff, afirmou que não lhe é dado a devida importância. “Geralmente, não se fala que foi ele que abriu o Pantanal pro mundo. É só visto como um sueco, fotógrafo, cineasta, meio fora da realidade… Porque naquela época era assim que era visto: fora da realidade”, disse.

Maria segurando o livro de Arne (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

Em março, um casal de turistas suecos que veio para o Pantanal somente para seguir os passos de Arne também fez questão de ir à biblioteca, e doaram um armário para que o acervo fosse guardado adequadamente.

Armário inaugurado pelos turistas suecos na Sema (Foto: Assessoria / Sema)

Atualmente a biblioteca ainda pode ser frequentada por técnicos da secretaria que a usam como base de dados para alguns estudos e pareceres na Sema e alguns alunos universitários, além do público em geral. Ela funciona das 8h às 12h e das 14 às 17h de segunda a sexta, mas não é possível precisar até quando estará de portas abertas.

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